MANOEL PINHEIRO GOULART
Nasceu em Maceió, capital de Alagoas, Brasil, a 22 de fevereiro de 1895 e faleceu em 1949, na mesma cidade.
Foi um triste e um romântico. Agarrado à província. Dela só saíra para prestar exames na Faculdade de Direito do Recife, onde se bacharelou.
A mesma ternura com que contemplava a vida derramava-a em seus versos simbolistas.
AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm. Exemplar encadernado. Bibl. Antonio Miranda
SILHUETA
Do perfumado incenso das distâncias,
Por entre um suave canto de saudade,
O teu perfil me vem mui cheio de ânsias,
Cheio de graça e cheio de bondade.
E do lá-longe vem, vem das distâncias,
Habitar o meu ser, todo ansiedade,
Vem, num doce cismar de ressonâncias,
Numa candura de emotividade...
Miro-te os braços brancos e divinos,
A tua cabeleira luzidia,
E os teus olhos castanhos, diamantinos.
E vens, qual de Jesus, Santa Tereza,
Dando-me alívio, dando-me alegria,
Matando a mágoa atroz desta tristeza.
CONVALESCENDO
Felizmente
Sinto-me quase bem..
E, de repente,
Cheio de ansiedade,
Tenho vontade,
—Uma vontade em mim toda esquisita,
De sentir o perfume e ouvir o som...
Ontem, numa visita,
O médico me disse:
“O senhor precisa de ar.
Preste bem atenção
A tudo,
E então,
Quero ouvir, de outra vez,
Se a sua palidez,
Se esta sua parodia de velhice,
Não se torna em saúde vigorosa.”
E esguio e mudo,
Com a alma curada e sã,
Na seguinte manhã,
—Linda e radiosa!
Saí de casa...
—Ah! quanto é bom uma asa!
Que belo estava o mundo!
Os pombos, sobre as cornijas
Alvas e rijas,
Faziam ninhos e arrulhavam choros...
O sol beijou-me o fundo
Das orelhas...
E eu desprendi, com gosto,
Um sorriso. E fiquei a pensar nas soalheiras
Que me haviam de cobrir, do rosto
Aos pés, numa doidice insana...
...E o mar cantava coros,
Como se em si tivesse uma alma humana,
Que faziam lembrar felizes sonhos...
Ah! quem me dera ser convalescente
Eternamente, eternamente!
*
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Página publicada em junho de 2021
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